quinta-feira, 29 de março de 2012

Névoa amiga

Solidão é qual névoa amiga,
que desprende de mansinho...
Vai chegando devagar,
que nem pássaro no ninho.
Solidão tem gosto amargo,
que não sai de quando em vez.
Espera pelo abraço apertado,
pelo encontro dourado
de um corpo em nudez.
Solidão é falta de tudo:
abraço apertado,
sorriso engraçado
e gosto de quero mais.
Solidão é que nem folha no chão,
depois do outono que não volta atrás.
Solidão é assim. Só quem sente é quem sabe lhe dar valor.
Cisma de encontrar nossas almas, fundir nossa vida , cheias de dor.
Ah, solidão...Vá embora, de meu coração!
Suma, parta de vez!
 Me deixe afogada em meus desencontros,
para que eu ressurja arrojada,
sem minha cruel mudez.
Não fale nada!
Apenas parta , apressada,
agasalhada em tua mesquinhez.
Aprenda contente,
que o coração demente
te alcança a estremez,
de um corpo sofrido, quisera bandido,
 sem timidez.
Em tua jornada, siga perene,
mordida em talvez.
Quem sabe na esquina,
de um bar ou da vida,
te encontres perdida em tua languidez.
Assim tu aprende, que deveras demente,
não devas voltar, com tua rapidez.
Vai, solidão.  Me abandone de vez!

sexta-feira, 16 de março de 2012

Minh'alma


Minh'alma impalpável segue destino longínquo
dominado por paixões e  impulsos
que deveras oblíquos
marcam o céu a meu dispor.
Segue fluídica, vespertina, delirante e irascível
que somente o ar lhe farta a forma
delinquente e distorcida
não se mostra nada a opor.
Vai dançando sorrateira, feito cigana brejeira
que almeja o som da lua
e seu breve torpor...
Filosofa a passos largos
na esteira condensada
de estrelas enfileiradas
imperfeita e transitória
almejando intenso calor.
Suor de outra alma
perdida,
nem contida 
ou desviada
de sua brilhante cor...
Vai vagando aliviada
na espuma da estrada
liberando entusiasmada
seu cheiro e sua virtude,
de forma que qualquer que a veja
entenda a eterna peleja
de amar e sentir dor...


segunda-feira, 12 de março de 2012

Dor

Da certeza coração aberto em chagas
Vivo a incerteza da mente conturbada
Planejada a meta embriagada
que corrói por dentro despedaçada...

Do chão empoeirado dessa estrada
Vivo e revivo a eterna enxada
que vasculha e remonta à bela caixa
de surpresa dolorosa e estragada...

Caminhos , por muitos tracejados
vieses tortos a seguir-lhes a enxurrada
da chuva que cai do céu avermelhado,
trazendo mil vezes a mágoa devotada.

Mãos suadas e calejadas vão vivendo,
incertas do que espera sua morada.
Bem ao certo, do que é certo nada sabe,
resta a espera, dolorida  e incansável
desta alma retalhada e lastimada...